No ano de 1965, o artesanato nordestino seria o destaque de uma exposição na Galeria de Arte Moderna, em Roma, na Itália. Mas o Itamaraty e o seu regime militar proibiram o lançamento da mostra “Nordeste do Brasil”. Era mais uma resposta à arquiteta Lina Bo Bardi, responsável pela montagem da exposição. Um ano antes, depois da deposição do presidente João Goulart, os militares queriam fazer uma mostra de armamento de guerra no foyer do Teatro Castro Alves, onde estava funcionando temporariamente o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Lina, diretora do museu, se recusou a ceder o espaço, perdendo o cargo que ocupava.

A arquiteta Lina Bo Bardi reuniu 2 mil peças de arte popular e artesanato para mostrar o Nordeste na Itália.
A coleção de arte popular, que inclui utensílios em madeira, objetos de barro, pilões, ex-votos, santos, objetos de candomblé, tinha mais de dois mil itens. Ficou recolhida desde 1965 nos “porões da ditadura” e só restaram 800 peças que estão na exposição exposição Fragmentos: Artefatos populares, o Olhar de Lina Bo Bardi fica em cartaz por tempo indeterminado no Centro Cultural Solar Ferrão, no Pelourinho, em Salvador, Bahia.
Numa época em que a arte popular não era valorizada, Lina viu o artesanato como uma possibilidade do design brasileiro. “Ela percebeu que a gente tinha muito o que ensinar para as escolas italiana e a Bauhaus, que faziam sucesso na época”, diz Daniel Rangel, diretor de museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Lina era uma arquiteta de visão antropológica, que olhava a produção de um povo e escolheu o Brasil como pátria. “Quando ela montou essa coleção não era só uma questão cultural, mas civilizatória. Se a gente tivesse valorizado o popular, teríamos nos tornado muito mais independentes das coisas que vem de fora”, observa André Vainer organizador da mostra.
Achillina Bo Bardi morreu em 1992, em São Paulo. Ela deixou uma rica herança para a arquitetura e para a arte nacionais. Participou da Fundação do Museu de Arte Moderna da Bahia, reformou o conjunto arquitetônico do Solar do Unhão (que hoje abriga o MAM), construído no século 17, projetou o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Sesc Pompéia.
A exposição Fragmentos: Artefatos populares, o Olhar de Lina Bo Bardi é aberta a visitação de terça a sexta, das 10h às 18h; finais de semana e feriados, das 13h às 17h
Fonte: MinC