Há tempos o debate por uma identidade nacional para a moda é pauta, mas o que impedia um real avanço? Talvez a falta de um conhecimento mais profundo sobre cultura popular.
Projetos como o Talentos do Brasil, que aproximou artesãos e designers colaboraram neste processo de reafirmação cultural, sobretudo para profissionais envolvidos neste debate como Ronaldo Fraga, Heloisa Crocco, Renato Loureiro, Tereza Santos, Iuri Sarmento, Virginia Scotti, Jum Nakao e Virginia Borges, entre outros.
Assim começou a relação de ganha-ganha: de um lado o mestre do artesanato tradicional e seus saberes, mas sem conhecimento técnico sobre prospecção mercadológica e autogestão. De outro o designer e seu apuro técnico para ajudar a identificar métodos e a iconografia de cada região. O conhecimento adquirido e a troca colaboraram com a sustentabilidade dos grupos de artesanato, em contrapartida, o conhecimento popular ganhou evidência nas passarelas nacionais e internacionais e cultura nordestina, através do artesanato com bordados, fuxicos e rendas garantiram espaço contínuo e crescente nas passarelas.
Porém, o verdadeiro avanço da sabedoria popular na moda — o qual ressaltamos aqui — não está restrito ao artesanato nordestino como recurso estético — o que se nota, enfim, é a cultura nordestina como fonte de informação para a moda.
Nos últimos desfiles, Ronaldo Fraga continua sendo o grande propagador do bordado e das rendas produzidas no interior da Paraíba e Pernambuco em seus desfiles. Neste SP Fashion Week, sua coleção foi pautada pelo artesanato regional nordestino: da renda Renascença ao ponto de cruz — tudo lembrando as feiras e mercados de artesanato.

Ronaldo Fraga: o mercado de artesanato na passarela. Foto: Raul Zito/G1
No último desfile da Maria Bonita, tecidos nobres, pintados à mão, tiveram cores inspiradas nas fachadas dos casarios populares do Nordeste. Na Amapô, as roupas fizeram referência ao cangaço e às danças populares tradicionais nordestinas como frevo, maracatu, entre outras. Os desfiles também tiveram trilha sonora regional. Ou seja, a malemolência, a atitude e o ritmo também foram incorporados à passarela. Ponto para os criadores que perceberam a fonte inesgotável de riquezas da nossa cultura.

Maria Bonita: cartela de cores inspirada no casario popular do Nordeste

Desfile Amapô: xaxado e referências a cultura popular nordestina
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O Projeto Talentos do Brasil foi criado para estimular a troca de conhecimentos entre cooperativas e grupos de artesãs de Norte a Sul do País, gerando emprego e agregando valor ao talento artesanal de cada grupo. No início, foram oito designers e quinze grupos divididos em doze estados. Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).